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"A Boneca e a Criança Interior: Um Encontro com a Alma"

  • agdagalvaopsic
  • 13 de abr.
  • 4 min de leitura

"Dentro de cada adulto espreita uma criança eterna, algo que está sempre se tornando, que nunca está completo e exige atenção, cuidado e educação constante."— C. G. Jung


Durante uma vivência em grupo, algo singelo e profundamente simbólico aconteceu. No meio do processo, uma participante pediu licença, saiu por um instante e voltou com uma pequena boneca nas mãos.


Ela a segurava com uma delicadeza tocante — como quem volta de mãos dadas com uma parte esquecida de si... Com os olhos marejados, compartilhou: “Essa boneca representa minha criança interior. Eu a comprei justamente para me lembrar dela.”


O gesto tocou a todas nós. Naquele instante, não estávamos mais diante de um simples objeto. Estávamos diante de um símbolo vivo, um gesto silencioso que abria caminho para uma dimensão profunda da psique. Algo se moveu na sala — e dentro de cada uma de nós.


O Arquétipo da Criança: vulnerabilidade e potência

Na Psicologia Analítica, Jung identificou o arquétipo da Criança não como representante apenas da infância biológica, mas como símbolo da possibilidade do novo, o potencial ainda não realizado, e a parte da psique que é vulnerável, criativa e essencial.


A nossa criança interior pode surgir nos nossos sonhos, nos momentos de ternura inesperada, no nó na garganta diante de uma música, no impulso de brincar com algo aparentemente “bobo”. Ela vive. E, discretamente, pede um lugar.


A criança interior que habita em cada uma de nós guarda tanto as memórias difíceis quanto as forças regeneradoras. Ela é, como apontou Erich Neumann, discípulo de Jung, o símbolo da totalidade que ainda está por vir — um "vir-a-ser". Em seu livro A Criança: Estrutura e Dinâmica da Personalidade em Desenvolvimento, Neumann destaca que o ego em formação da criança está profundamente ligado à mãe e ao ambiente simbólico ao seu redor.

 

A imagem como linguagem da alma

A boneca trazida pela cliente não era um mero objeto — era uma imagem psíquica. Jung nos ensina, entre tantas outras coisas, que a imagem é o idioma da alma.


Naquele contexto clínico, a representação física da boneca permitiu que conteúdos inconscientes encontrassem expressão.


As imagens não são apenas representações estéticas ou visuais, mas formas simbólicas carregadas de sentido arquetípico, que emergem do inconsciente coletivo ou pessoal.

Ao interagir com essas imagens, a pessoa não apenas recorda — ela recria, ressignifica, transforma, acolhe partes de si que estavam adormecidas.


Reencontrar a criança esquecida

Em algum momento da vida, muitas de nós deixamos nossa criança interior para trás. Ela pode ter se calado diante de experiências intensas, de traumas, de dores da infância, e se escondido por medo ou simplesmente ter sido ignorada em nome das exigências da vida adulta. Mas ela nunca desaparece. Ela continua ali — esperando. Em silêncio. Ela não é só passado. Ela é promessa de futuro.


Quando a reconhecemos com carinho — sem tentar consertar, apenas aceitando e ouvindo — podemos iniciar um movimento profundo: o de reconexão com a totalidade da alma. Esse movimento, entre tantos, é parte essencial do processo de individuação, caminho central da Psicologia Analítica: tornar-se quem se é, de fato, acolhendo também as partes esquecidas.

Resgatar a criança interior não é apenas relembrar o passado. É dar voz ao que foi silenciado. É oferecer espaço ao que foi ferido — sem a expectativa de consertar, mas com a disposição de restaurar uma relação interna consigo mesma.

 

 O cuidado com o sagrado

Há algo de sagrado no gesto da cliente que trouxe a boneca. Sagrado no sentido junguiano: aquilo que nos conecta ao mistério, à profundidade do ser, ao centro da psique — o Self.

A relação com a criança interior é, em última instância, uma relação com o Self em sua forma mais tenra, mais pura. Ela não é apenas passado, mas também um futuro simbólico, uma promessa de plenitude.

 

Mas… e você? Quando foi a última vez que olhou nos olhos da sua criança interior? O que será que ela gostaria de te contar? Quando foi a última vez que ela brincou, chorou,

dançou, pediu colo?


Talvez este seja o momento de buscá-la. De chamá-la para perto. Não para resolver o que foi, mas para dizer: “estou aqui agora… e você pode vir comigo. Vamos caminhar juntas daqui para frente!”


Se essa leitura tocou algo em você, talvez seja hora de fazer um gesto simbólico caso deseje: escreva uma carta para sua criança interior, ou guarde um objeto que a represente ou simplesmente sente-se em silêncio e escute-a.


Acolher essa presença dentro de si é mais do que lembrar —é dar espaço para que ela viva em você, hoje. Se quiser, compartilhe comigo — ou apenas leve essa pergunta para dentro de si: o que a sua criança interior gostaria de dizer agora, se pudesse falar?


Lembre-se: a jornada começa com um olhar… Quem sabe, um dia, esse olhar se volte — ainda que por um breve instante — para uma bonequinha esquecida… e algo desperte... E então, reencontre sua alma.

Autora: Agda Galvão

Psicoterapeuta Junguiana




 
 
 

1 Comment

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Adilaine Silveira de Castro
há 10 minutos
Rated 5 out of 5 stars.

Que texto necessário! Falar sobre a criança interior é abrir espaço para a escuta de partes profundas de nós mesmos; aquelas que ainda carregam sonhos, dores e necessidades não atendidas. É um tema de enorme importância, porque ao acolhermos nossa criança interior, damos passos fundamentais no caminho da cura, da autenticidade e da reconexão com a nossa essência. Parabéns por trazer essa reflexão.

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